segunda-feira, 2 de junho de 2008

O universo copernicano: paganismo na nova ciência

A idéia do heliocentrismo não era nova na época de Nicolau Copérnico (1473-1543), mas foi em seu tempo que as condições históricas estavam mais favoráveis ao desenvolvimento do estudo de um sistema com a Terra fora do centro. Das navegações vinham relatos de mundos diferentes, terras desconhecidas, faunas e floras não concebidas pelos europeus. Tirar a Europa do centro das observações do mundo natural ajudava a tirar a Terra do centro do universo também. Mas fica explícita na obra do Copérnico uma reverência em relação ao Sol típicamente pagã. Realmente, escreveu em De revolucionibus o seguinte sobre o Sol:

"Na verdade, não sem razão, foi ele chamado de o farol do mundo por uns, e, por outros, a sua mente, chegando alguns a chamar-lhe o seu governador. (...) Realmente o Sol está como que sentado num trono real, governando a sua família de astros que giram à volta dele."

As influências metafísicas na ciência de Copérnico não vieram do nada. Estamos falando do Renascimento e este era um período na Europa em que o resgate do paganismo, em especial das mitologias grega e romana, eram muito presentes no mundo das artes.

Jesus e Maria, no detalhe da Capela Sistina - Michelângelo. O brilho eclipsado
por Jesus é uma referência ao Sol, que na pintura como um todo ocupa posição central.

Evidentemente que essa mistura mitológica contribuiu, mas não era um fator determinande na construção de um universo heliocêntrico (ou, mais rigorosamente, helioestacionário). O modelo ptolomaico e copernicano traziam resultados muito parecidos no que diz respeito à predição das posições dos astros. Mas este tinha a vantagem de trazer cálculos muito mais simples em geometrias reduzidas. Talvez esteja aí o embrião de uma "lei" das ciências naturais que perdura até hoje e diz algo como: se você tem duas explicações satisfatórias para um mesmo fenômeno, dê preferência ao mais simples. E ainda assim muitos problemas precisavam ser superados. Deslocar o Terra fora do centro do cosmo implicava também em mover o centro de gravidade e reformular uma série de outros princípios que só foi resolvido com a mecânica newtoniana.
Cabe ressaltar que a defesa do sistema helioestacionário só se tornou proibida no Velho Mundo depois do século XVI. Antes disso era muito bem recebida pelos estudiosos católicos, ao ponto do papa Paulo III incentivar Copérnico em suas pesquisas. As primeiras reações contrárias ao novo sistema vieram dos protestantes, diretamente de Lutero e Calvino. Somente no século XVII que as posições se inverteram no campo, com os católicos - aliados da nobreza - contrários ao sistema helioestacionário e os protestantes - aliados dos mercadores e comerciantes - a favor.

2 comentários:

Bruno Moreschi disse...

Trate de atualizar mais seu blog, pois ele está nos meus favoritos :)

Wilson Guerra disse...

Huahuahahaahha.. é verdade, é verdade. Retomarei as postagem já já!