domingo, 16 de março de 2008

Perspectiva: arte como uma das fontes inspiradoras à ciência moderna

Durante a Renascença, um novo olhar na expressão artística da pintura viria a mudar para sempre a técnica e as ciênicas: a perspectiva. Antes, as pinturas medievais eram criadas com aquilo que ficou conhecido como "espaço agregado". Não importava a distância ao observador; o tamanho dos objetos retratados variava conforme o grau de importância dada a eles de acordo com a hierarquia social da Idade Média da Europa.
Também era comum durante o medievo, a representação do céu em cor dourada. O céu e a terra eram sempre separados, desconectados, remetendo a existência de um mundo da perfeição e um da corrupção. Essa era a influência da visão aristotélica dicotômica para os movimentos celestes e terrenos, adotada e desenvolvida por toda a Idade Média européia.

A Última Ceia - Duccio - Nesta pintura , os apóstolos sentados mais próximos ao
observador são menores do que os que estão mais adiante.



Chegada de Cristo a Jerusalém - Pietro Lorenzetti - Céu e Terra estão nitidamente separados.
Também não há uma perspectiva claramente estabelecida. Os personagens e figuras representados
têm suas dimensões definidas por grau de importância, sem relação com sua localização espacial.

Com o emprego da perspectiva como técnica na arte da pintura, a partir da Renascença, uma nova concepção de espaço surgira. Empregaram o chamado ponto de fuga, uma convergência imaginária para onde rumavam todas as retas paralelas da pintura para ele, do teto e o solo. Engenheiros e técnicos passaram a usar esse artíficio também em seus trabalhos.
Nessa representação do tridimensional no plano, céu e terra se encontravam no infinito, e o espaço já não tinha limites.

A Última Ceia - Leonardo Da Vinci - As retas paralelas do chão, das paredes, da mesa
e do teto se projetam a um ponto imaginário comum. Nesse ponto de confluência não
há separação entre o céu e a terra, que se encontram.


O casamento da virgem - Rafael - O quadriculado no chão reforça a idéia de perspectiva,
um artifício muito usando pelos artistas da renascença. A idéia de espaço infinito fica
denotada na obra, que também não separa elementos do céu e da terra.

A nova forma de se representar a geometria do espaço nas artes, substituindo a visão particular da Idade Média influenciou, assim, a nova concepção de mundo que a Ciência Moderna viria revelar. Manifestou-se pela unificação do céu e da terra, da mecânica celeste e da mecânica terrestre, iniciada de maneira mais sintética por Galileu e concluída com Newton. A inédita concepção espacial adotada pela ciência não viria, portanto, do interior da filosofia natural, e sim do mundo das artes. A própria mecânica, que então passou a entender que os movimentos celestes e terrestres eram regidos por um mesmo princípio (a gravitação universal) foi herdeira de artistas que souberam conceber e construir um novo espaço.

sexta-feira, 7 de março de 2008

"Ora (direis) ouvir estrelas!"


Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o censo! E eu vos direi, entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do Sol, saudoso e em pranto.
Inda as procuro pelo Céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Via-Láctea - Olavo Bilac