quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Luz e Encantamento

Talvez possamos dividir a produção intelectual humana em três grandes categorias: a mitológica, a artística e a científica. Mesmo que recentemente percebi nascer um discreto mas crescente interesse pelas duas primeiras, tenho enorme deslumbre pela terceira. Não compreendo muito bem as razões disso, apesar de talvez possuir um esboço mentalizado primitivo para entendê-lo. De qualquer forma, esse não é o nosso tema central.
A visão de universo que a Ciência Moderna nos trouxe jamais havia sido alcançada antes. Ela e seus métodos, inaugurados ou sintetizados por Galileu, permitiram uma amplidão em nossa compreensão do Cosmo que nossos limitados sentidos moldados em Eras de Seleção Natural jamais alcançariam. A tecnologia fruto dela, hoje, seria, aos olhos de nossos antepassados, confundida com pura magia. E talvez seja aí que o importante entra: o fascínio e o deslumbramento que a Ciência proporciona em nossa compreensão de mundo, suas origens e até da nossa própria origem é, num sentido todo especial, mágico.
Ao contrário do que muito se propaga, a visão científica das coisas não tira seu encanto. Esse é um equívoco até certo ponto compreensível, de quem vê que, no contexto da modernidade, muito se perdeu na nossa capacidade de nos encantarmos até com a própria vida. Penso que a razão dessa “depressão” se encontra na própria forma como a sociedade se organizou (capitalismo), cujo arremate final já havia sido dado no meio do século XIX. O capital reduz tudo ao seu interesse utilitário. Da Ciência, ele retira apenas seu substrato de interesse imediato – basicamente a técnica. Essa é uma questão que só será resolvida quando a humanidade decidir superar a Ordem do Capital. O fato é que a Ciência não se resume à técnica. É essa incorreta redução que nos induz a atribuí-la o falso adjetivo de “fria”. Saber que a fusão de átomos de hidrogênio no coração de uma estrela é a razão de sua energia diminui o seu brilho? Saber que a estrutura regular na disposição de átomos de carbono num diamante lhe conferem as propriedades geométricas e óticas retira sua beleza? Saber que as pressões seletivas é que moldaram as flores de uma planta anulam seu perfume? Jamais! É estimulante descobrir que a Natureza se expressa de formas tão ricas e variadas a partir do que é simples: dos equilíbrios na física, dos elementos fundamentais na química e da base genética comum da vida na biologia.
Somente a Ciência Moderna, ao se incumbir da enorme pretensão de entender todas as coisas, nos traz alguma luz para compreensão real do mundo e um encanto genuíno perante a Natureza. Essa luz e esse encanto serão os temas deste espaço.

2 comentários:

Maíla Diamante disse...

Essa visão estética da ciência é o que a justifica. Ah... cientista, vc vai longe!

Simone Semprebon disse...

"É estimulante imaginar que a Natureza se expresse de formas tão ricas e variadas a partir do que é simples: dos equilíbrios na física, dos elementos fundamentais na química e da base genética comum da vida na biologia."

Gostei muito do seu texto. Esse parágrafo diz muito!

Ainda não sei mexer muito bem nesse blog, mas também tentarei adicionar seu blog.

Simone