Carl Sagan dizia que as sondas espacias são a expansão do nosso sentido da visão. Penso que a primeira imagem do titânico planeta que vi veio do mais famoso "olho expandido" do século XX: a sonda Voyager.
Talvez a primeira sensação que todos nós temos ao ver a camada atmosférica externa de Júpiter - é "só" o que podemos ver por enquanto - é de estarmos a frente de uma pintura. A técnica - a aquarela - é utilizada sob uma tela especial: de formato esférico.
Nessa tela esférica não há bordas: a aquarela planetária não tem fim.
A aquarela de Júpiter é especial num outro sentido: não é estática. Turbilhões de furacões e tempestades (a mais famosa delas - a Grande Mancha Vermelha - é maior que a Terra), como gotas de tinta ambulantes, varrem a gigantesca tela esférica do planeta. Nesse translado, nada fica como antes: as nuvens no caminho são moldadas, retorcidas, reconfiguradas. Longas e extensas nuvens onduladas brancas ganham seu lugar na tela, como as barbas do Júpiter mitológico dominam seu rosto.
A "tinta" utilizada é quimicamente simples. Nuvens vermelhas, brancas, marrons e azuis do enxofre, fósforo e outras impurezas em meio a todo seu hidrogênio, hélio, e compostos básicos como o metano.
Às vezes nossos "olhos expandidos" flagram aberturas nas nuvens brancas superficiais, revelando camadas mais profundas e exóticas. Dessas brechas, radiação infravermelha escapa e revela o calor de mais de nove mil graus célcius de seu interior. É toda essa energia que faz turbilhar a atmosfera. Por isso as pinceladas nunca páram.
Júpiter, a aquarela planetária gigante, pinta a si própria, de dentro para fora.
A natureza é realmente muito criativa!
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Jupiter est trop beau!!!
Admiro, acredito e me alegro com sua causa. Trazer as adjacncias espaciais para as ruadelas virtuais é de grande valia para o entendimento geral da humanidade acerca de sua origem, meio e catatônico (não distante) fim. Sou sua fã! E o lerei com carinho e atenção a cada post. Um beijo!
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