"A descoberta das coisas processa-se em três fases: na primeira existem apenas os dados separados dos sentidos. Vemos a cara e a coroa da moeda. Seria tolice usar palavras tão profundas como 'verdade' e 'falsidade' nesta simples fase. O que vemos é assim ou não é. Onde não é possível fazer qualquer outra apreciação, as palavras mais sutis estão deslocadas.
Na segunda fase, colocamos a cara e a coroa juntas. Vemos que faz sentido tratá-las como uma coisa, que vem a ser a coerência das suas partes na nossa experiência.
O espírito humano não se detém aqui. Um animal pode ir tão longe como isto: um chipanzé aprenderá a reconhecer uma xícara sempre e onde quer que a veja, e saberá o que fazer com ela. Mas tudo que aprendemos sobre os chipanzés nos diz que é difícil pensarem eles na xícara quando esta não está à vista e imaginarem então a sua utilização. O espírito humano tem uma forma de manter a xícara ou a moeda na sua mente.
A seguir, a terceira fase: ter um símbolo ou um nome para a moeda no todo. Para nós, a coisa tem um nome, e num sentido é o nome: o símbolo ou o nome permanecem presentes e o espírito trabalha com ele quando a coisa está ausente. Em contra-partida, uma das dificuldades que os sherpas* se deparam ao verem o Everest é que a montanha tem nomes diferente em vales diferentes.
As palavras verdadeiras e falsas têm o seu lugar nas últimas fases, quando se juntaram os dados fornecidos pelos sentidos para formar uma coisa que se mantém no espírito. Apenas então se reveste de significado inquirir se aquilo que pensamos acerca da coisa é verdadeiro, ou seja, se podemos agora deduzir como a coisa se deve comportar, e ver se assim é. Se isso é realmente uma montanha, dizemos, então a orientação desse marco deve ser em direção ao oriente, e nós observamo-lo. Se isso é uma moeda, deve ser então sensível ao tato.
(...)
O hábito da experiência e a correção do conceito pelas suas conseqüências na experiência têm, desde então, representado a mola real dentro do movimento de nossa civilização. Na ciência, nas artes e no auto-conhecimento exploramos e movimentamo-nos constantemente, voltando-nos para o mundo dos sentidos para perguntar: será isso assim?"
Trecho de Ciência & Valores Humanos
Jacob Bronowski - Matemático e Biólogo britânico
* - Nativos das regiões andinas, que viam as faces leste e oeste do Everest mas não supunham que se tratavam da mesma montanha.
Um comentário:
O espírito humano não se detém aqui. Um animal pode ir tão longe como isto: um chipanzé aprenderá a reconhecer uma xícara sempre e onde quer que a veja, e saberá o que fazer com ela. Mas tudo que aprendemos sobre os chipanzés nos diz que é difícil pensarem eles na xícara quando esta não está à vista e imaginarem então a sua utilização. O espírito humano tem uma forma de manter a xícara ou a moeda na sua mente.
Falou e disse, "amado mestre".
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