O Grande Colisor de Hádrons (LHC, do inglês "Large Hadrons Collider") é, de longe, o acelerador de partículas subatômicas maior de todos os tempos. Alguns historiadores entendem que é o maior esforço científico cooperado da humanidade. Muito se espera compreender nas próximas décadas, em que o equipamento se tornará operacional, no que se refere à constituição mais elementar da matéria. Desde corroborar (ou não) com modelos teóricos atualmente aceitos no campo da física de partículas até novas e imprevistas constatações. Tudo isso porque as energias cinéticas das partículas aceleradas nele (que atingirão 99,999999% da velocidade da luz!) são altíssimas, e então poder-se-ão realizar observações nesses extremos energéticos, que são comuns só em situações especiais e em pontos pouco acessíveis do universo (no interior do Sol, no intensíssimo campo magnético dos pulsares, etc). Mas o Grande Colisor também trará outra questão, menos física e mais humana: a de como se desenvolverá a "sociablilização" científica (pelo menos na área da física das altas energias) de agora em diante.
De fato, uma característica comum nas ciências, em especial nas ciências da natureza, é a relação dialética competição/cooperação em seu desenvolvimento evolutivo. O teste experimental é realizado por um corpo de cientistas independentes, onde um laboratório pode aumentar a precisão, o número de dados de uma experiência e detectar possíveis falhas realizada anteriormente em outro. O resultado do processo é uma espécie de aumento na qualidade dos dados extraídos, e ao mesmo tempo uma depuração, em que enganos e erros (e eventualmente até falsificações) são filtrados durante a construção da consensualidade entre os vários componentes da comunidade científica.
Até a primeira metade do século XX isso era prática comum, já que cada experimento envolvia baixo custo e até se dava ao luxo de poder ser realizado por um único estudioso. Mas a complexidade aumentou em vários níveis. Hoje é difícil um único cientista levar a cabo um experimento inteiro. Isso só ocorre em equipes. Os aparatos experimentais, instrumentais, etc, necessitam de grandes financiamentos. O que significa que nem todos os laboratórios podem reproduzir, por limites materiais e técnicos, alguns tipos de atividade experimental.
E o LHC parece ser o caso extremo disso: não há nenhum outro igual no mundo. Então como se dará o processo de depuração de seus resultados mais fantásticos? Como fica o "controle de qualidade" e o espírito de cooperação científico na construção do conhecimento se se trata de um laboratório único? Talvez o depurador dos dados extraídos do LHC virá apenas do observacional, da natureza, do que os telescópios captarem das explosões estelares ou dos objetos mais exóticos da "fauna" cósmica. Ou talvez isso não será possível, pelo menos não a nosso contento, já que observações astrofísicas são de difícil acesso uma vez que os eventos estudados nessa área ocorrem a distâncias literalmente astronômicas. Ou confiaremos em seus resultados analisados e confirmados por ele mesmo? A história parece demonstrar que instituições auto-sustentadas geralmente nos levam a caminhos enganosos.
Assim como o processo experimental, iniciado por Galileu, foi um marco na construção do conhecimento humano, que passou a ser menos contemplativa e mais efetiva, talvez esse novo grande acelerador de partículas exija um equivalente salto de qualidade no que se refere a prática da ciência.
De fato, uma característica comum nas ciências, em especial nas ciências da natureza, é a relação dialética competição/cooperação em seu desenvolvimento evolutivo. O teste experimental é realizado por um corpo de cientistas independentes, onde um laboratório pode aumentar a precisão, o número de dados de uma experiência e detectar possíveis falhas realizada anteriormente em outro. O resultado do processo é uma espécie de aumento na qualidade dos dados extraídos, e ao mesmo tempo uma depuração, em que enganos e erros (e eventualmente até falsificações) são filtrados durante a construção da consensualidade entre os vários componentes da comunidade científica.
Até a primeira metade do século XX isso era prática comum, já que cada experimento envolvia baixo custo e até se dava ao luxo de poder ser realizado por um único estudioso. Mas a complexidade aumentou em vários níveis. Hoje é difícil um único cientista levar a cabo um experimento inteiro. Isso só ocorre em equipes. Os aparatos experimentais, instrumentais, etc, necessitam de grandes financiamentos. O que significa que nem todos os laboratórios podem reproduzir, por limites materiais e técnicos, alguns tipos de atividade experimental.
E o LHC parece ser o caso extremo disso: não há nenhum outro igual no mundo. Então como se dará o processo de depuração de seus resultados mais fantásticos? Como fica o "controle de qualidade" e o espírito de cooperação científico na construção do conhecimento se se trata de um laboratório único? Talvez o depurador dos dados extraídos do LHC virá apenas do observacional, da natureza, do que os telescópios captarem das explosões estelares ou dos objetos mais exóticos da "fauna" cósmica. Ou talvez isso não será possível, pelo menos não a nosso contento, já que observações astrofísicas são de difícil acesso uma vez que os eventos estudados nessa área ocorrem a distâncias literalmente astronômicas. Ou confiaremos em seus resultados analisados e confirmados por ele mesmo? A história parece demonstrar que instituições auto-sustentadas geralmente nos levam a caminhos enganosos.
Assim como o processo experimental, iniciado por Galileu, foi um marco na construção do conhecimento humano, que passou a ser menos contemplativa e mais efetiva, talvez esse novo grande acelerador de partículas exija um equivalente salto de qualidade no que se refere a prática da ciência.